Ao contrário do que muita gente pensa, trabalhar de casa continua sendo trabalhar. E como uma usuária desse sistema de emprego moderno, eu vivo em busca de estratégias pra usar o meu tempo de forma sensata. Um dos desafios é a cozinha. Por questões econômicas e de saúde, minhas refeições são todas feitas em casa. Só como em restaurante quando tô na rua e não tenho outra opção.
Só que preparar café da manhã, almoço, lanche e janta todos os dias em casa dá trabalho e requer um tempo imenso. E ainda não posso me dar ao luxo de passar o dia apenas na cozinha, o que acredito que iria me aborrecer bastante também. Uma hora a gente não aguenta mais ver cebola na frente nem sujar louça.
Pra economizar tempo, eu e Lucio nos revezamos. Em geral, quem fez o almoço não faz a janta. Mas além do compartilhamento de tarefas, há milhões de outras estratégias que nos ajudam a agilizar as comidas aqui em casa. Uma delas é fazer alguns preparos básicos em grande quantidade pra semana toda, como arroz e feijão. Só que aí tem um problema: a frescura de não aguentar comer a mesma coisa todo santo dia. Inclusive é saudável comer comida fresca e variada, né?
Nosso lema, então, é reinventar novos pratos com o arroz e o feijão da geladeira. E esse é o post de hoje. Vou resumir, em detalhes, o que faço com os restos desses dois ingredientes aqui em casa.
Mas antes, não custa lembrar, pare imediatamente de jogar comida fora. Primeiro porque é dinheiro jogado no ralo. Segundo porque é mais lixo pro aterro sanitário. Terceiro que é uma questão ética, né? Uma parte bem considerável da humanidade passa fome. Então o mínimo que você precisa fazer, já que tem comida na mesa, é usufruir ao máximo e agradecer por isso.
Aliás, saber recriar pratos a base de sobras é uma das habilidades que respeito muito nas pessoas. Tô de saco cheio desses programas de culinária que desperdiçam horrores de ingredientes e não dão dicas pra ajudar a gente a reaproveitar as sobras. Esses programas amam xingar as tias amadoras por não saberem fazer um empratamento refinado, mas não valoriza o potencial delas de aproveitar aquele arroz de ontem como ninguém.
E é claro, se você tem pavor de comida requentada, mesmo se tiver novos sabores e texturas, dê o seu jeito de comprar menos e cozinhar em menor quantidade, assim você evita o desperdício.
Vamos lá.
Sobras de feijão
Croquetes de feijão com molho de pimenta |
As sobras de leguminosas cozidas, como os feijões, exigem um tiquinho de cuidado por causa da umidade do caldo. Por mais que a gente escorra beeeeem, será praticamente inevitável usar algum tipo de farinha em novas refeições. Já tive a proeza de fazer hambúrguer de feijão preto e batatas sem farinha. Mas só depois de deixar a massa no congelador por uns 30 minutos. Apenas escorri bem o feijão cozido e já temperado, misturei com um purê de batatas bem amassado e acrescentei cheiro verde (ou outras ervas aromáticas). Um pouco mais de sal, um tipinho de páprica defumada e massa pronta. Aí deixo no congelador pra massa ficar mais fácil de modelar. E pronto. Basta fazer o formato desejado e levar ao forno, ou frigideira bem quente untada com azeite ou fritar por imersão.
Se optar pelos bolinhos, há um segredo pra deixar as casquinhas mais crocantes: empanar. Nessa versão da foto, empanei os croquetes com farinha de mandioca. Mas poderia ser farinha de trigo, arroz, de rosca ou linhaça. Cada uma vai deixar a receita com uma textura e sabor diferente, mas todas dignas de comer lambendo os beiços.
Pra essa receita da foto, eu usei 1 xícara de arroz, 1/2 xícara de feijão bem escorrido, bastante manjericão picado, 1 colher de café de molho de mostarda (desses industrializados) e 2 colheres de sopa de farinha de trigo. Misturei tudo com as mãos, modelei a massa em formato de croquete, empanei na farinha de mandioca e levei no forno (com fogo alto) por 20 minutos. Na metade do tempo de forno, virei os croquetes pra ficarem crocantes em cima e embaixo.
Mas também dá pra fazer coisas mais simples com feijão de ontem. Em Santa Catarina a gente usa muito farinha de mandioca pra fazer pirão. E pirão de feijão é uma das melhores coisas do mundo. Basta ferver o feijão bem temperadinho (com alho, cominho, louro, pimentas) e acrescentar farinha de mandioca na panela até alcançar a textura desejada. Ah! Alguns lugares do Brasil chamam isso de tutu.
E se quiser algo mais saboroso ainda, também rola de fazer bolinhas com essa massa e fritar. E já temos outra receita: bolinhos de feijão. Confesso que já usei até dendê pra fritar e ficou uma delícia inexplicável.
Sobras de arroz
Hambúrguer de arroz de ontem com temperinhos |
Arroz puro já é o suficiente pra dar textura em bolinhos e hambúrgueres. Se estiver bem sequinho talvez nem exija alguma farinha para dar liga. Então aqui em casa os restos de arroz sempre viram essas duas possibilidades.
Pro tradicional bolinho de arroz eu só misturo qualquer tipo de arroz (em geral em torno de 1 xícara), cenoura ralada (1 cenoura média), 1 cebola crua bem picadinha, sal e cheiro verde a gosto. Faço bolinhas. Se a massa tiver difícil de dar o ponto, acrescento um tiquinho de farinha de trigo até conseguir fazer bolinhas com a mão. Coloquei farinha demais? Basta acertar a receita com um pouco de água. Pra modelar a massa com facilidade, a dica é molhar as mãos com água. E pronto. Aí é só levar ao forno pré-aquecido até ficar sequinho por fora ou fritar. Mas confesso que a melhor versão dessa receita é feita no formato de hambúrguer, grelhado na frigideira com um pouco de azeite.
Também dá pra variar a receita e acrescentar outros legumes em vez da cenoura, como berinjela defumada, ou beterraba ralada, batata cozida e amassada, pedacinhos de tomate seco, ou até rechear com algum patê. Uma dica importante é não usar vegetais que soltam muita água, que vai atrapalhar a liga do bolinho, como tomate, chuchu ou abobrinha.
E outra saída maravilhosa pro arroz de uns dias atrás é usá-lo em recheios. Pode ser pra rechear pimentão, tomate, abobrinha ou folhas de couve, uva ou repolho.
No caso dos legumes, é só fazer um corte neles crus, temperar com sal, pimenta do reino e azeite e tacar o arroz dentro. No caso das folhas, precisa cozinhá-las antes por 2 minutos pra amolecerem. Depois é só rechear e levar ao forno ou cozinhar na panela com molho de tomate.
A minha musa inspiradora Sandra Guimarães, do blog Papa Capim, também tem um post sobre como reciclar sobras de comida. Nele, a rainha dá dicas ótimas de como transformar restos em uma espécie de paella. Espia aqui. E este blog que vos fala também tem receita de empadinhas recheadas com sobras da geladeira. Espia aqui.
E para outras dicas de como agilizar a vida na cozinha, espia esse post também.
Cozinha saudável é cozinha sem desperdício.
Cozinha saudável é cozinha sem desperdício.
Uma resposta
Adorei as dicas! Nunca fiz pirao ou tutu.. vou tentar! Mas as possiblidades são muitas mesmo. Não ao desperdício, minha gente!