Em uma sexta-feira de uns anos atrás, eu voltava pra casa junto com uma amiga do trabalho e a gente conversava sobre saúde e alimentação, assuntos recorrentes entre nós. Contei pra Lívia que eu sofria muito com candidíase, e que a minha ginecologista recomendou, como última estratégia de tratamento, reduzir o consumo de açúcar (que era alto). A Lívia fez aquela cara de “não sabias disso, sua pamonha”? Ela já sabia que a Sonia Hirsch associava a cândida ao consumo de açúcar. E foi nesse momento que ouvi falar pela primeira vez dessa senhorinha que entende muito das propriedades curativas dos vegetais, que é amiga da Bela Gil, estudiosa voraz da medicina chinesa, e que já publicou mais de 20 livros sobre saúde.
A Sonia não é cientista, nem médica, nem nutricionista. E nem escreve se fazendo passar por uma. O conteúdo que ela produz é sob o olhar de uma jornalista curiosa, com base em leituras, em referências, que inclusive constam nos livros.
De lá pra cá devorei vários livros dela e descobri, há uns meses, como a medicina milenar chinesa enxerga a questão da alimentação. Acho que tanto a Sonia quanto os chineses tem muuuuuito pra nos ensinar. Acabei de fazer o curso dela aqui em Floripa na semana passada, que durou três dias e me rendeu 12 páginas de anotações num caderninho. E sigo nos estudos sobre os hábitos alimentares da China.
Se tiver que resumir ao máximo, me arrisco a dizer que o principal ensinamento da Sonia e da medicina chinesa é essa forma de enxergar o corpo de forma integrada, como um todo, onde tudo está conectado. Um problema de coluna não pode ser resolvido em um ortopedista porque pode ter sido desencadeado por um desequilíbrio no fígado, por exemplo. A medicina aqui do Ocidente, em geral, insiste em tratar apenas os sintomas em vez de buscar compreender a fundo as raízes do problema.
Se tiver que resumir ao máximo, me arrisco a dizer que o principal ensinamento da Sonia e da medicina chinesa é essa forma de enxergar o corpo de forma integrada, como um todo, onde tudo está conectado. Um problema de coluna não pode ser resolvido em um ortopedista porque pode ter sido desencadeado por um desequilíbrio no fígado, por exemplo. A medicina aqui do Ocidente, em geral, insiste em tratar apenas os sintomas em vez de buscar compreender a fundo as raízes do problema.
Eu e a Sonia no curso Meditando na Cozinha, que ela ministrou aqui em Floripa durante três dias. |
O que aprendi com a Sonia Hirsch
1. Sobre o ato de cozinhar: É impossível ser saudável delegando aos outros a tarefa de fazer a sua comida. Ir pra cozinha é um dos requisitos pra ter saúde, inclusive pra saúde mental. É mais difícil para as mulheres, é claro, que sofrem com o machismo e muitas vezes não contam com a parceria dos homens nas tarefas domésticas (precisamos mudar isso!!!!). Mas o ato de cozinhar não precisa ser encarado como uma obrigação. A comida que sai das mãos de alguém estressado e de saco cheio não vai ser equilibrada, saborosa e nutritiva. Não vamos cozinhar sorrindo todos os dias, obviamente, falo pelo meu próprio exemplo, mas precisamos tentar tirar esse fardo das costas. O que a Sonia defende no curso dela é a importância de resgatarmos o prazer e o afeto no ato de cozinhar. Primeiro, temos que dar um jeitinho de deixar a cozinha confortável, por mais que seja apertada. A gente tem que se sentir bem naquele espaço. Coisas que parecem muito simples e bobas, como desenvolver uma afetividade por uma faca, colher de pau ou panela fazem toda a diferença na qualidade da comida. Tornam aquele momento mais prazeroso. Outra coisa. Cozinhar, segundo a Sonia, é como meditar. Vamos usar esse tempo que gastamos na cozinha para nos entregar, se concentrar em cada etapa, exercer a atenção plena na hora de picar aquele alho e esquecer o mundo ao redor.
2. Sobre o ato de comer: Se sentir sonolento ou estufado depois de comer não é normal. Pode ser a mastigação, que não foi bem feita como deveria. Pode ser o fato de não estarmos atentos ao que ingerimos. É fundamental identificar os sabores e texturas a cada garfada, o que auxilia muito a digestão. Por isso é tão ruim comer com distrações, como TV e computador, que fazem a gente não prestar atenção na comida. E também tem a questão da quantidade. A gente costuma comer muito mais do que precisa, principalmente quem come rápido e com pressa. Cada um precisa encontrar o seu equilíbrio na quantidade de comida que coloca no prato.
3. Sobre autoconhecimento: Nada em excesso faz bem, nem repolho orgânico. Há estômagos que lidam melhor com feijão do que outros. Há pessoas que não se sentem mal com um pouquinho de açúcar por dia. Outras têm enxaquecas homéricas ao devorar um bombom. O que precisamos saber é que não existe alimentação perfeita, existe autoconhecimento. O segredo da saúde é encontrar o seu equilíbrio, a sua harmonia. A Sonia recomenda que a gente invista em uma alimentação com 70% de alimentos que fazem bem pro próprio corpo e outros 30% que são importantes para a saúde psíquica, pra vida social: o chope com os amigos, o vinho com a namorada, o pudim da avó no domingo. Isso não mata ninguém e evita possíveis compulsões alimentares.
4. Sobre o leite: Quando o assunto é o leite de vaca, não tem discussão: não faz bem pra ninguém. Ele é feito para nutrir um bezerro, não um ser humano. É altamente inflamatório, cancerígeno e piora muito o quadro de quem sofre com as “ites”: sinusite, rinite, faringite, além das alergias como um todo e da acne. O nosso intestino também não foi feito pra digerir o leite. Se você está lendo esse post, é porque já cresceu. Desapegue-se do “leitinho”.
5. Sobre o açúcar: O açúcar rouba a nossa vitalidade e deprime, tipo aquele seu colega de trabalho que só reclama da vida. Por isso, a pior hora para consumi-lo é pela manhã, quando precisamos de energia, e em outros momentos quando estamos de estômago vazio. Não é a toa que se inventou o hábito da sobremesa, depois das refeições. É a hora mais apropriada para dar um alô pro docinho, já que o suco gástrico já está trabalhando. O alto consumo de açúcar é considerado tóxico: enfraquece os rins, sobrecarrega o pâncreas, estimula a produção de mucos, causa desordens emocionais e fragiliza o sistema imunológico, o nosso exército contra doenças.
6. Sobre vitalidade e energia: Segundo a Sonia, o problema das farinhas não está no glúten, mas no processo de refinamento, que tira todos os nutrientes do trigo e o transforma em um alimento sem vida. É por esse motivo que os alimentos ultraprocessados nem são considerados comida, eles são desvitalizados. Sabe o exército de zumbis da série Game of Thrones? Então. São eles. É como se a gente comesse isopor. Lembra que a mosca não pousa na margarina? E que o hambúrguer do MC Donalds não mofa por semanas? Não tem vida ali. Nada. Por isso é bom escolher farinhas integrais, porque elas possuem nutrientes, estão vivas. Variações bruscas de temperatura também roubam a nossa energia. Por isso, é bom evitar ar condicionado, ventilador e secador de cabelo. Por outro lado, banho de mar e de cachoeira, pé na terra e cozinhar são atividades que nos enchem de energia e saúde.
7. Sobre as leguminosas: Esse assunto me deixou um pouco desanimada. A Sonia defende que as leguminosas são pesadinhas de digerir. Não é a toa que precisamos deixá-las de molho e cozinhá-las com especiarias (louro, cominho, gengibre, alho…). Ok, disso já sabemos. O que ela acrescentou é que precisamos evitar ao máximo comer leguminosas requentadas (e agora, vida?). Sim, tem que fazer e comer no mesmo dia porque elas continuam fermentando e quanto mais fermentadas, mais difícil de digerir. A macrobiótica diz que as melhores leguminosas são as que têm os grãos menores e a Sonia acrescentou que precisamos sempre combiná-las com outro cereal na hora de comer, como milho ou arroz. Ah! E amendoim só cozido e em pequenas quantidades! 😓
8. Sobre o inhame: Se há algum representante de Deus na terra, esse alguém é o inhame. Ele é o campeão do fortalecimento das nossas defesas, o bálsamo da limpeza do sangue, aumenta a fertilidade nas mulheres, baixa febre e é cicatrizante. Resumindo: não faça guerras, coma inhame.
9. Sobre sucos: Dona Sonia Hirsch não recomenda sucos. Diz que eles costumam ter frutose em excesso e não exigem a mastigação, o que dificulta pro estômago saber o que tá digerindo. Como os sucos não me fazem mal, pelo que me conheço, vou continuar tomando, sem exageros.
10. Sobre o cocô saudável: O intestino não veio ao mundo pra ficar preso ou solto demais. Ele precisa de harmonia pra fazer seu trabalho. Como ele é um dos responsáveis por produzir o nosso exército de células protetoras, temos que ficar de olho nesses desequilíbrios. Esses desarranjos podem ser falta de líquidos, comida muito seca, consumo de leite e derivados ou outros alimentos que não fazem bem, assim como diversas questões emocionais. A melhor hora pra evacuar é de manhã, em jejum. Assim que acordar, a Sonia recomenda tomar um copo de água morna, que vai cutucar o intestino e fazê-lo funcionar, eliminando o que precisa sair do corpo do dia anterior. Intestino saudável significa corpo e mente saudáveis.
11. Sobre temperos: Lembra que os portugueses invadiram o Brasil quando tavam tentando ir pra região da Índia buscar especiarias? Então. Elas valem a viagem mesmo. Não só por contribuirem pra deixar a comida gostosa e sem gosto de hospital. Elas auxiliam a digestão e têm milhões de propriedades maravilhosas. O tomilho, por exemplo, ajuda a fortalecer a imunidade. Já salsinha, com 700 propriedades curativas, e a cúrcuma, um poderoso antiinflamatório, são dignas de disputar o trono com o inhame caso o Reino Vegetal fosse palco da série Game of Thrones. Os marqueses gengibre e o louro são ótimos para aliviar gases intestinais.
Assim como os chineses, a Sonia defende que as hortaliças sejam consumidas quentes, como nesse caldo de abóbora com rúcula, servido durante o curso dela. |
Achou todo esse papo interessante?
Vou deixar aqui algumas leituras para você se aprofundar mais:
O primeiro livro que li sobre a alimentação na medicina chinesa foi esse rosa da foto: “Por que as chinesas não contam calorias”. O segundo foi o “Manual do Herói”, da Sonia Hirsch. |
13 Responses
Ual! Muito maravilhoso Ju! Cara que sorte a minha ter encontrado você hahaha
Obrigada 💙💙💙💙
Muito bom tudo isso!
Sou uma profissional da MTC – Medicina tradicional Chinesa e é perfeita a tradição alimentar oriental!
Super recomendo aos meus pacientes, claro q com um tekinho de nossas noções envolvidas no processo!
Que post maravilhoso! Super informativo e adoro a clareza quando você diz que apesar dela dizer uma coisa você entender o seu corpo e decidir diferente. Acho que hoje essa é uma das questões mais interessantes, né, a gente entender o que é bom pra gente, sem neuras. Um beijo, obrigada por compartilhar essa experiência tão bacana! (Ah, eu espero que você tenha compartilhado com ela esse trabalho incrível que você faz aqui <3) Um beijo
O kefir de leite também deve ser evitado?
Uau mandou muito bem, Ju! Deu para sentir como vc deve ter saído fervilhando de ideias depois desse curso! Adorei o post, parabéns!
Querida! Fico feliz que tenha gostado! Um beijo.
Meudeus! Quero já uma consulta contigo!!! Onde atendes? hehe
Exatamente! Sem terrorismo. Essa é a chave! Sim, dei um cartão do blog pra ela e expliquei do que se trata rapidinho! hehe Um beijo.
Sim! Qualquer coisa que leva leite de vaca. Há outras possibilidades de probióticos que não precisam de leite. Tem o kefir de água, o kombucha, os alimentos fermentados…
Muito! Ainda vem muito estudo e leitura pela frente. hehe Beijo, gata!
Eu fiquei tão chateada porque perdi o curso dela em Floripa, mas esse resumo me iluminou muito. Gratidão!
Quando possível, assista no Netflix o primeiro episódio da 3° temporada de Chef's Table, com a monja Jeong Kwan. Puro amor e mostra tudo isso que você falou. Bjs ♥
Gisleyne, eu já vi esse episódio da monja umas 3 vezes!! hahahaha Obrigada por se preocupar em me indicar, viu?
Amei…obrigada!