Esse é um exemplo de orgânico certificado. Mas nem sempre precisa do selo! |
⇨ Mudança no nome: O novo projeto de lei quer que os agrotóxicos passem a ser chamados de “defensivos fitossanitários”. Sabe quando os partidos políticos mudam de nome pra ver se a gente esquece o que eles já aprontaram? É a mesma lógica.
⇨ Redução no prazo pra aprovar um novo agrotóxico: Para um novo veneno entrar em vigor no Brasil, ele precisa passar por uma avaliação, o que costuma levar de dois a três anos e oito meses atualmente. Não precisa ser especialista na área pra entender que esse período é importante para que sejam feitos testes e mais testes antes de sair aprovando o negócio, certo? Mas a nova lei quer reduzir esse prazo para 30 a 180 dias.
A pulverização aérea é proibida em diversos países do mundo, como os da Europa. No Brasil, ainda é permitido. |
E, afinal, o que são os orgânicos?
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a agricultura orgânica é aquela que não causa danos sociais e ambientais (mais detalhes nesse link). Ao contrário do agronegócio, que produz culturas de alimentos em grande escala com o uso de agrotóxicos, os alimentos orgânicos são cultivados sem venenos por famílias, cooperativas e associações. Nesse tipo de lavoura, não se pode utilizar antibiótico nos animais, nem fertilizantes, conservantes, pesticidas, além de sementes transgênicas nos plantios.
Só existe um tipo de alimento orgânico?
Não. Existem diversas variações. Exemplos:
⇨ Orgânicos certificados: São alimentos que cumprem uma série de critérios super exigentes para ganhar os adesivos abaixo. O selo que garante que o produto é orgânico é dado por instituições certificadoras credenciadas no Ministério da Agricultura. Esse processo acaba encarecendo bastante os produtos. Por isso, esse grupo costuma ter um valor bem maior do que os outros alimentos, e são encontrados, principalmente, nos supermercados.
⇨ Orgânicos não certificados: São produtos cultivados sem agrotóxico mas que não possuem o selo de certificação. Para garantir que os alimentos estejam realmente livres de veneno é necessário conhecer os produtores ou fazer parte de redes de compras coletivas onde os participantes tenham contato direto com os agricultores. Sim, existem várias denúncias de feirantes que enganam os consumidores, mas isso não pode enfraquecer o trabalho de centenas de pessoas. Pesquise.
⇨ Produtos em transição agroecológica: São alimentos oriundos de plantações que já usaram agrotóxico em outros momentos e não conseguem a certificação por ainda possuírem indícios dos defensivos no solo. Por mais que os produtores tenham a intenção de plantar orgânicos, o processo de “desintoxicação” da terra pode levar anos.
Dá pra alimentar o mundo inteiro com orgânicos?
Esse costuma ser o ponto de maior polêmica entre defensores e críticos dos agrotóxicos. Mas pense aqui comigo. Nós, brasileiros, somos os maiores consumidores de alimentos envenenados do mundo. Deixamos de ter pessoas passando fome por isso? Não. O agronegócio não resolveu o problema da fome. Já a produção de orgânicos, por mais que seja menos lucrativa, pode alimentar toda a população do planeta. Diversos estudos já provaram isso, assim como a Organização das Nações Unidas (ONU). Não acredita? Espia esses estudos aqui e aqui, além desse relatório da ONU.
E o preço? Os orgânicos são mesmo mais caros?
Em geral sim, principalmente as frutas. Mas é importante entender os motivos que levam os preços a serem mais altos antes de sair xingando o produtor na feira. Em primeiro lugar, a agricultura orgânica envolve mais gente e menos máquinas. E essas pessoas precisam ser remuneradas, obviamente. Em segundo lugar, a distribuição dos produtos é feita em pequena escala, o que também encarece o preço final. Em terceiro lugar, o solo é utilizado de forma menos intensa e mais respeitosa. Isso significa que durante uma safra e outra os produtores precisam plantar outros alimentos menos lucrativos, justamente para recuperar a terra. E, como bem lembrado pela Flora aqui nos comentários, o principal fator que encarece o preço dos orgânicos é a falta de incentivo para os pequenos produtores. O governo brasileiro enche os grandes latifundiários de incentivos fiscais. Oferecem mil facilidades para os agricultores que usam glifosato na lavoura. E os produtores de orgânicos não recebem nenhum tipo de apoio, de subsídio, de orientação. Precisam fazer tudo por conta própria. É injusto demais!
Como tornar os orgânicos mais baratos?
Uma pesquisa da ONG Kairós mostrou que a diferença de preço entre alimentos orgânicos e convencionais está caindo cada vez mais. Os pesquisadores acreditam que o aumento da demanda por orgânicos tende a baixar os custos de produção, distribuição, marketing, etc. Acesse o estudo completo aqui. Separei também algumas dicas aqui para, juntos, nos mobilizarmos na luta pela democratização da comida sem veneno:
⇨ Compre o máximo de orgânicos que puder. Se você pode arcar com os custos de vegetais e outros produtos orgânicos, invista neles para que outras pessoas possam comprá-los no futuro. Não precisa comprar a feira inteira. As hortaliças, arroz e temperos, por exemplo, são mais baratos e muitas vezes têm preços equivalentes aos produtos convencionais.
⇨ Exija que a merenda das escolas da sua região seja orgânica. Se o seu filho estuda em escolar particular, é mais fácil. Mobilize um grupo de pais e corra atrás. Se não, pense no coletivo e pressione os vereadores e deputados a sugerirem leis que obriguem as redes públicas de ensino a incluir alimentos orgânicos na merenda escolar. Não conseguiu resultados? Que tal um mutirão para criar uma horta comunitária nas escolas do bairro?
⇨ Pressione os vereadores e deputados da sua região a sugerirem leis para apoiar os produtores orgânicos. Não dá mais pra incentivar os agricultores a plantarem com venenos. Chega de subsídios e incentivos fiscais para quem utilizar glifosato na lavoura!
⇨ Cobre de restaurantes que você frequenta. Procure os administradores e peça que incluam alimentos orgânicos no menu.
⇨ Divulgue o trabalho de produtores e fornecedores da agricultura sem veneno. Descobriu uma feira no bairro? Bares e restaurantes que compram da agroecologia? Incentive os vizinhos e familiares a frequentarem.
⇨ Crie sua própria rede de distribuição. Não acha alimentos orgânicos em supermercados, feiras e hortifrutis da sua cidade? Que tal entrar em contato com alguns produtores e montar a sua própria rede de distribuição? Já existem várias pelo Brasil.Veja um exemplo aqui. É a forma mais eficaz de baratear os preços enquanto não temos mudanças efetivas nas políticas públicas.
Compro alguns orgânicos certificados e outros de produtores que conheço e confio. |
Como é a minha relação com os orgânicos?
Ainda não cheguei no ponto de poder fazer a feira do mês apenas com orgânicos. O que faço hoje é comprar o máximo que minha conta bancária e disposição para me deslocar permitem. Pesquiso bastante pra procurar os melhores preços e compro pelo menos os vegetais que costumam ser banhados em veneno: tomate, pimentão e morango. No supermercado eu passo longe porque é o lugar mais caro sempre. Aqui em Floripa eu acho arroz orgânico, folhas verdes, maçã e farinha de trigo a preços bem acessíveis. Quando vou visitar minha família no interior, sempre trago duas toneladas de comida de produtores orgânicos locais, não certificados, mas que conheço ou tenho conhecidos que conhecem e são confiáveis. Compro feijão por R$ 5/kg, açúcar mascavo por R$ 6/kg, uva, gengibre, cebola, melado, pinhão, batata doce… Tem que pesquisar! Muitos produtores não usam veneno, mas não têm a certificação. Esses são os mais baratos sempre. Corra atrás!
Outro jeito de consumir orgânicos de baixo ou nenhum custo é plantar em vasinhos em casa ou construir uma horta coletiva no seu prédio, como é o meu caso. |
Não sabe onde comprar orgânico na sua região? Espia esse mapa com diversas feiras em cidades de todo o país.
5 Responses
Lindona,
um ponto que você mencionou no instagram e que senti falta aqui no post é a questão dos subsídios que tornam mais baratos os produtos convencionais de monocultura – o que, por contraste, faz os orgânicos serem percebidos como caros.
Amo demais acompanhar teu trabalho. Força aí!
Obrigada por lembrar, amada! Já incluí no texto! 🙂
Teus posts estão fantásticos.
Estou amando.
hahahaha Marmelada! Marmelada!
Ju querida.Amei seus posts.Textos claros,objetivos, gostosos de ler.A gente acaba aprendendo a cozinhar de maneira saudável e de quebra ainda fica por dentro da politica.Ca entre nos não é assunto agradável,mas não podemos ficar alheios aos destinos do nosso pais.E voce,tão sabiamente nos deixa informados de uma maneira mais leve, alternando o prazer da comida e a politica,tudo junto e misturado.Obrigada Ju.Sou sua fã.